Hoje fui ao Hospital ver um tio avô que está internado desde ontem. Tem quase 90 anos e para além da grave anemia que lhe foi diagnosticada, o coraçãozito já está a ficar fraquinho, sendo cada vez mais dificil sentir os seus batimentos. Foi-me doloroso vê-lo assim...ali deitado numa cama de hospital, com soro e oxigénio a pender-lhe sobre a pele cadavérica. Está cada vez mais magrinho, antigamente, já o era...mas era uma magreza normal para uma pessoa que nunca comeu muito. Mas agora, não come praticamente nada, está cada vez mais fraco de dia para dia. No entanto, tem uma força de viver incrível. Está sempre bem disposto e com uma memória melhor que a minha. Lembra-se de coisas que nem eu própria me recordava.
Mas custa muito ver uma pessoa que sempre nos acompanhou, que esteve sempre presente nas nossas vidas, assim...a ser domada pela idade; "velhice" como lhe chamam.
E é assim a lei da vida, tomara que todos passemos por ela tão bem como ele está a passar.
Cada dia que passa ficamos todos mais velhos. Cada um da sua forma. Cada um com sua história. Precisamos enxergar e respeitar o sentimento e a dificuldade do outro envelhecer. Muitas vezes queremos convencê-los com discursos vazios, de que a velhice é linda, que eles precisam sair, se distrair, participar de programas culturais, etc. Como se tudo dependesse somente da força de vontade.
A idade avançada não indica o fim, mas os sabores da vida são degustados de formas diferentes. Às vezes o sentimos amargo, em outros mais docinho. O segredo talvez seja aprender a saboreá-los mais lentamente, um de cada vez, sem pressa, sem ansiedade.
Uns dizem que é bonito envelhecer. Outros que é feio. E eu digo: não é bonito nem feio. É simplesmente difícil envelhecer. Com ou sem teoria sobre o que é o envelhecimento.
Há três anos venho testemunhando a “voz do idoso” e confesso que as diversas vozes têm me ajudado a repensar, e muito, nesta etapa da vida. Com elas estou aprendendo a comemorar os anos a mais que a vida nos dá. Aprendendo a conviver bem com eles.
E depois de ter lido este pequeno excerto de Marisa M. Ferianci, fiquei com o coração mais leve, menos angustiada, com vontade de aproveitar cada momento desta vida da melhor forma possível.
Não devemos deixar de fazer as coisas que gostamos, que nos fazem felizes, que nos acrescentam, que nos fazem sonhar e saborear cada dia com um sabor novo e autêntico.